Arquivos mensais: março 2021

Casa da Arquiteta 2 – As Soluções Sustentáveis

Por Lilian Nagato


Se vc viu o post original da Casa da Arquiteta, talvez tenha ficado curiosa/o com algumas das soluções sustentáveis que adotamos… Então este novo post é pra mergulharmos mais fundo na questão da sustentabilidade! Vamos lá?

Lá no primeiro post, dissemos que abrimos mão do terceiro quarto (uma suíte) para termos um jardim. Será que valeu a pena? Veja o que ganhamos com isso…

Mais luz natural

Ao demolir o terceiro quarto, o pequeno corredor em volta da casa virou um jardim, que trouxe muito mais luz para todos os cômodos com janelas próximas. Até os vizinhos saíram ganhando.

Maior permeabilidade do solo

Antes, 100% do lote encontrava-se impermeabilizado. Com a reforma, foi quebrado o piso existente do quintal, e foi deixada pavimentada apenas a passagem para a edícula. Como resultado, o lote ficou com 21,3% de sua área permeável, garantindo que a água da chuva possa penetrar no solo, evitando assim seu escoamento para o sistema de drenagem convencional da cidade, contribuindo para diminuir enchentes e a formação de ilhas de calor, e possibilitando recarga do lençol freático, sua absorção pelas plantas, sua evaporação… Para aumentar a permeabilidade do solo, foram escavadas covas grandes para o plantio de mudas, e também uma vala de infiltração (preenchida com brita) abaixo do telhado da edícula. O piso de ardósia da passagem para a edícula tem caimento para o jardim, que foi finalizado com nível abaixo do pavimento.

Maior retenção de água no lote

Sobre a laje da sala (que também apresentava infiltrações), havia telhas de cimento amianto e algumas calhas muito antigas para o escoamento da água da chuva. Na reforma, as telhas foram retiradas, e foi feita a impermeabilização da laje e das calhas, e a instalação de um teto jardim. Com o teto jardim, aumentamos a retenção de água de chuva no lote, melhoramos o isolamento térmico da sala, e ainda temos mais espaço para cultivo de plantas. Contribui-se, novamente, para diminuir enchentes e ilhas de calor.

Reaproveitamento da água da chuva

No corredor lateral, foram instalados reservatórios para captação e armazenagem de água de chuva. As calhas que fazem a captação das águas do telhado da casa já existiam, e foram apenas acrescentados os reservatórios nos pontos de descida da água. O sistema adotado funciona por gravidade, dispensando o uso de bombas; foi projetado especificamente para o local, tendo como base os projetos de Edison Urbano (www.sempresustentavel.com.br) e de Marco Antônio Jorge (patenteado no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual, sob o código MU8400084-8 U2, implantado em habitações populares em Americana, SP), e construído com tubos de PVC de 300mm de diâmetro. A água é diretamente utilizada para regar o jardim e outros usos não potáveis, como lavagem de pisos.

Paisagismo mais produtivo

No jardim de pequenas dimensões, foram aproveitados diversos espaços para o plantio de ervas, temperos, frutos, verduras, etc., utilizando-se sistemas propostos pela Permacultura¹, como a espiral de ervas. A espiral de ervas cria condições adequadas ao desenvolvimento vegetal, a partir da criação de microclimas (mais ou menos sol ou sombra) e de condições de solo (mais ou menos umidade) apropriadas a cada espécie, com condições de acessibilidade facilitadas ao usuário.

Também plantamos maracujá próximo à fachada do escritório e do quarto de hóspedes, na edícula, voltada ao norte, para ajudar a sombrear os grandes vãos.

Além de tudo isto, também incorporamos…

Compostagem de lixo orgânico doméstico

Foi colocada na lavanderia, sob a escada de acesso ao escritório, um minhocário, estrutura que também segue os princípios da Permacultura, destinada à compostagem de lixo orgânico doméstico. Trata-se de um conjunto de caixas interligadas, onde é colocado o lixo orgânico não cozido (como cascas de frutas e legumes, restos de verduras, etc.), onde ocorre a compostagem, ou seja, a decomposição da matéria orgânica para uso como fertilizante em plantios. Como resultado, temos a redução da quantidade de lixo produzida, e a fabricação no local dos adubos/fertilizantes utilizados no jardim.

Energia solar

Para completar o pacote de sustentabilidade, não poderíamos deixar de usar a energia solar, tão abundante no nosso país. Utilizamos a sua forma mais barata, a energia solar em sua forma térmica, para (pré)aquecer diretamente a água do chuveiro. Foi utilizado o Aquecedor Solar de Baixo Custo fabricado pela Belosol (fora de mercado atualmente), baseado na tecnologia social desenvolvida pela Sociedade do Sol (www.sociedadedosol.org.br). As placas solares foram posicionadas sobre o teto jardim, voltadas a norte, e estão ligadas a um reservatório exclusivo para água quente, isolado com EPS, colocado entre a laje e o telhado.

Nota

¹ Permacultura, segundo seus autores, é “um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, cujo objetivo é a “criação de sistemas que sejam ecologicamente corretos e economicamente viáveis; que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis a longo prazo”. MOLLISON, B. Introdução à Permacultura. Tyalgum: Tagari Publications, 1991, p. 13.

Circuito Urbano 2020 – ONU Habitat


MORADIA E COVID-19 – Conectar todas e todos para a construção de um futuro urbano melhor

Em outubro de 2020, pelo segundo ano seguido, a Tema organizou um evento dentro da programação do Circuito Urbano da ONU-Habitat. Em 2020, por causa da pandemia de Covid-19, foram organizados exclusivamente eventos online na programação do Circuito Urbano, e no nosso caso, fizemos o evento ao vivo. Foi o segundo ano em que organizamos um evento dentro da programação do Circuito Urbano da ONU, o primeiro foi em 2019, veja detalhes em nossa página no Facebook, neste link.

Mas afinal, o que é o Circuito Urbano?

O Circuito Urbano é uma iniciativa do escritório do ONU-Habitat no Brasil, criado em 2018 para apoiar institucionalmente e dar visibilidade a eventos organizados por diversos atores. O Circuito Urbano ocorre, desde então, todos os anos no mês de outubro, que se inicia com o Dia Mundial do Habitat (na primeira segunda-feira do mês) e se encerra com o Dia Mundial das Cidades (31 de outubro). O Outubro Urbano conta sempre com dois temas selecionados para estimular o debate entre diversos setores sobre como tornar a vida nas cidades melhor para todas e todos. Em 2020, o Dia Mundial do Habitat abordou o tema da “Habitação para todas e todos: um futuro urbano melhor” e o Dia Mundial das Cidades focou no tema “Valorizando nossas comunidades e cidades”.

Em 2020, a 3ª edição do Circuito Urbano foi realizada de forma totalmente virtual. Para aproveitar as vantagens da modalidade online e aprofundar o intercâmbio de experiências e conhecimentos, esta edição foi realizada em parceria com os escritórios do ONU-Habitat em Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Dessa forma, o Circuito Urbano 2020 se centrou no tema “Cidades Pós-COVID-19: Diálogos entre o Brasil e a África lusófona”.

Nossa contribuição

O evento organizado pela Tema foi um painel de discussões online sobre Moradia e da Saúde Pública em tempos de Covid-19, e teve como foco a reflexão e a troca de experiências, a conexão e articulação entre diversos atores-chave (setor público, sociedade civil, e academia). Buscou-se revelar possibilidades existentes para enfrentamento da Pandemia da COVID-19 em situações de vulnerabilidade social, e como podem ser potencializadas e efetivamente transformadoras, ao unir os esforços e conectar as ações individuais. A precariedade da moradia foi um dos pontos de destaque, por estar diretamente relacionada à qualidade de vida da população, em função das condições de salubridade, habitabilidade e de segurança em que vive. Nosso evento, desta forma, acabou por mostrar formas de se viabilizar um novo urbano, discutindo sobre a atuação dos atores-chave, e as possibilidades para a construção de soluções mais participativas e assertivas na área de habitação social.

O painel de discussões contou com apresentações de diversos convidados e convidadas. Começou com a apresentação da Poliana Risso Silva Ueda, Arquiteta Urbanista e sócia da Tema, sobre o projeto “Moradia e COVID-19, uma Questão de Saúde Pública: O Caso de Votuporanga”, que a Tema vem desenvolvendo desde o início da pandemia, com a monitorização de dados na região de Votuporanga.

Depois, foi a vez do Ricardo D’Avila, Médico infectologista, formado na Fundação de Medicina Tropical – Heitor Vieira Dourado, em Manaus. Em Paraty há 4 anos, atua como médico de saúde da família e comunidades e como coordenador da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares do hospital municipal. Desde o início da pandemia, Ricardo coordena o grupo de enfrentamento ao COVID-19 no município de Paraty. Por isso, falou sobre a Estratégia de geolocalização dos casos de COVID no município e as ferramentas criadas para esse acompanhamento, e como podemos utilizá-las para o enfrentamento de outras doenças endêmicas.

Na sequência, tivemos a apresentação de Sandra Becker, Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFF, 2017), Especialista em Política e Planejamento Urbano (IPPUR, 2014). Coordenadora do Gabinete de ATHIS do CAU/RS que objetiva a promoção de ações na implantação da Lei Federal 11.888/2008 – ATHIS. Sandra foi convidada para falar sobre o Projeto Nenhuma Casa Sem Banheiro, uma iniciativa do CAU RS”, que visa promover política de ATHIS voltada à melhoria sanitária domiciliar.

Depois foi a vez de ouvirmos a experiência de Luisa Lins, advogada popular e militante feminista que veio representar o Fórum de Mulheres de Pernambuco. Luísa fez uma fala incrível sobre A atuação do movimento feminista frente a precarização das vidas das mulheres no contexto da pandemia”. Entre diversos pontos abordados, deixamos abaixo as cartilhas produzidas pelo FMPE sobre COVID para distribuição entre as comunidades de Pernambuco.

Por fim, tivemos a oportunidade de ouvir a Tatiana Urbanovik Brandimiller, Arquiteta urbanista e também sócia da Tema, que atualmente faz um doutorado na Faculdade de Engenharia do Porto, Portugal, e veio falar sobre A importância da aproximação entre universidade e as experiências práticas na propositura de políticas públicas adequadas à realidade brasileira”.

O conteúdo das apresentações foi sistematizado pela facilitação gráfica da Fabifinland, que pode ser visto nos slides acima. Após o fim das apresentações, foi feito um debate entre todos os convidados, e aberto também espaço para perguntas do público que acompanhava a live pelo canal do Circuito Urbano do YouTube. O evento teve a moderação de Lilian Farah Nagato, arquiteta urbanista e sócia da Tema.

Arquivos e links

Página do Circuito Urbano 2020 da ONU-HABITAT: http://www.circuitourbano.org/moradia-e-covid-19.html

Vídeo do evento: https://www.youtube.com/watch?v=OutTJQZMVVc

Cartilhas do Fórum das Mulheres de Pernambuco: https://linktr.ee/forum_mpe

Site do CAU-RS, sobre o Programa Nenhuma Casa sem Banheiro: https://www.caurs.gov.br/tag/nenhuma-casa-sem-banheiro/

Ficha técnica:

Data do evento: 27 de Outubro de 2020, às 10h (horário de Brasília)

Organização: Tema Planejamento e Projetos Urbanos, Arquitetônicos e Sociais

Parceria: Pró-Associação de Arquitetos urbanistas de Votuporanga e Região (PROARQ)

Apoio institucional: ONU-HABITAT Brasil

Facilitação gráfica: Fabi Finland (voluntária ONU-Habitat) @fabifinland

Apoio técnico: Guilherme Ueda e Julia Baptista (voluntária ONU-Habitat)