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Solo-cimento em Embu das Artes – Artigo científico

Uso de tijolos de solo-cimento na construção de habitações de interesse social no município de Embu das Artes, SP, Brasil

por Lilian Nagato


Este artigo, apresentado pela arq. Lilian Farah Nagato para o 2º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – CIHEL, realizado em Lisboa, Portugal, em 15/3/2013, busca relatar a experiência do município de Embu das Artes, localizado na Região Metropolitana de São Paulo, Brasil, com o uso de tijolos de solo-cimento para construção de habitações de interesse social.

Com o relato de um estudo de caso, o artigo pretende mostrar que a opção por uma técnica construtiva não convencional, porém localmente disponível, e por isso adequada, pode auxiliar a viabilizar a política habitacional de um município sem recursos e com grande déficit habitacional a ser enfrentado.

O artigo explica, inicialmente, a opção pelo uso dos tijolos de solo-cimento, em um momento de poucos recursos financeiros disponíveis para construção de habitações, e a possibilidade de aproveitamento de outros recursos existentes, como uma máquina usada, espaço para instalação de uma fábrica, matéria prima disponível e uma grande quantidade de pessoas desempregadas, que fabricaram os tijolos.

São explicadas as características do material e do sistema construtivo, que possibilitou sua fácil assimilação por pessoas sem qualificação prévia em construção civil, que executaram a alvenaria em sistema de mutirão (ajuda mútua).

A produção dos tijolos na fábrica montada pela Companhia Municipal de Habitação de Embu das Artes é relatada e sistematizada em fases, para melhor apreensão dos processos produtivos, dificuldades encontradas, e evolução da produção. Também são relatadas as dificuldades encontradas na execução da alvenaria pela mão de obra pouco qualificada, e as alterações de projeto realizadas para facilitar a execução.

Por último, é apresentada uma avaliação da percepção e aceitação do material pelos moradores, realizada com base em pesquisa amostral.

Constatou-se que o uso de tijolos de solo-cimento, associado a outras alternativas técnicas não convencionais, viabilizou, inicialmente, por seu baixo custo financeiro, a execução de uma política habitacional no município de Embu das Artes e o atendimento de famílias com alto grau de vulnerabilidade social, habitantes de favelas sem nenhuma infraestrutura ou qualidade urbana e habitacional. Os projetos executados também criaram um novo referencial arquitetônico e urbanístico no município, com a inserção de conjuntos em pequenos terrenos dentro do tecido urbano existente. O uso do material ainda proporcionou ganhos dos pontos de vista ambiental e social, que abriram na política habitacional a possibilidade de incorporação de conceitos relacionados à sustentabilidade.

Palavras-chave: Habitação, política pública, inovações técnicas, solo-cimento, sustentabilidade.

Casa da Arquiteta

Por Lilian Farah Nagato


Quando procurei uma casa pra morar com meu companheiro, o importante era ter espaço externo para termos um jardim, uma churrasqueira, um lugar pra pendurar uma rede e pra curtir o sol sem sair de casa. Mas esta não é a regra de quem mora em casa em São Paulo, ao que parece. A maior parte das casas que visitávamos ocupavam quase 100% do terreno, e não sobrava espaço externo nenhum, a não ser por alguns corredores laterais estreitos. Assim sendo, quando escolhemos esta casa, sabíamos que teríamos que reformá-la, derrubando cômodos.

Por isso, abrimos mão do terceiro quarto para termos um jardim. Quebramos todo o piso do quintal para garantir a permeabilidade do solo.

Organizamos a disposição e a circulação interna da casa, trocando a cozinha de lugar com um dos quartos.

Refizemos instalações hidráulicas e elétricas, e a maior parte dos acabamentos. Temos um aquecedor solar pra água do chuveiro, e reservatórios de água de chuva por gravidade.

Na edícula, aproveitamos um espaço grande e estreito que parecia não ter muito uso, e o transformamos em um escritório/estúdio, com fechamento quase todo em esquadrias de madeira, em vez de alvenaria com janelas pequenas, pra não perder a luminosidade.

Também reformamos o quartinho (cheio de infiltrações) e o banheiro da edícula, pra ser um terceiro quarto. No momento, está sendo usado como quarto de hóspedes.

Retiramos as telhas de cimento amianto existentes sobre a laje da sala (que também apresentava infiltrações), fizemos a impermeabilização, e colocamos um teto jardim.

As soluções mais sustentáveis adotadas são de baixo custo e alto impacto. Porque não basta o discurso, temos que partir pra prática!


Ficha técnica:

Local: São Paulo, Brasil

Início do projeto: 2012

Conclusão da obra: 2014

Área do terreno: 160 m²

Tipologia: Residencial