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Circuito Urbano 2021 – ONU Habitat


AÇÕES DE ENFRENTAMENTO À CRISE CLIMÁTICA E SOCIAL NAS FAVELAS E NÚCLEOS PRECÁRIOS

Em outubro de 2021, pelo terceiro ano seguido, a Tema organizou um evento dentro da programação do Circuito Urbano da ONU-Habitat. Em 2021, novamente, a programação de eventos do Circuito Urbano foi online, por causa da pandemia de Covid-19.

Leia sobre os eventos da Tema pelo Circuito Urbano, de 2019 e 2020, aqui no nosso site, na nossa página do Facebook e no nosso Instagram.

Mas afinal, o que é o Circuito Urbano?

O Circuito Urbano é uma iniciativa do escritório do ONU-Habitat no Brasil, criado em 2018 para apoiar institucionalmente e dar visibilidade a eventos organizados por diversos atores. O Circuito Urbano ocorre, desde então, todos os anos no mês de outubro, que se inicia com o Dia Mundial do Habitat (na primeira segunda-feira do mês) e se encerra com o Dia Mundial das Cidades (31 de outubro). O Outubro Urbano conta sempre com dois temas selecionados para estimular o debate entre diversos setores sobre como tornar a vida nas cidades melhor para todas e todos. Em 2021, o Dia Mundial do Habitat abordou o tema da “Acelerando a ação urbana para um mundo livre de carbono e o Dia Mundial das Cidades focou no tema Adaptando cidades para a resiliência climática”.

Em 2021, a 4ª edição do Circuito Urbano foi realizada novamente de forma totalmente virtual.  O tema do Circuito Urbano 2021 foi “Cidades na linha de frente da ação climática” e os eventos estavam relacionados a quatro linhas temáticas: 1) Cidades Sustentáveis e Livres de Carbono; 2) Cidades Inclusivas e Justas; 3) Cidades Saudáveis e 4) Cidades Resilientes.

Nossa contribuição

O evento organizado pela Tema ocorreu no dia 23 de Outubro de 2021, às 9h (horário de Brasília), e  foi um painel de discussões online sobre AÇÕES DE ENFRENTAMENTO À CRISE CLIMÁTICA E SOCIAL NAS FAVELAS E NÚCLEOS PRECÁRIOS, e teve como objetivo mostrar como as desigualdades sociais e econômicas, refletidas no espaço construído (com a falta de saneamento básico, de habitabilidade nas moradias, ocupações em áreas de risco ou de proteção ambiental, para dar apenas alguns exemplos), estão intrinsicamente ligadas à temática climática. Ao mesmo tempo em que foram aprofundadas estas relações entre a questão climática e as desigualdades sócioeconômicas, foram também sendo mostradas possibilidades de enfrentamento, resistência e atuação transversais.

O painel de discussões contou com apresentações de diversas convidadas. Começou com a apresentação da Olívia Orquiza de Carvalho Zara, Arquiteta Urbanista, membro do BrCidades núcleo Londrina, e pesquisadora do Green Building Lab da Unicamp, que nos deu um panorama abrangente e profundo sobre o crescimento das cidades, da população favelizada, a crise climática e o conceito de vulnerabilidade climática, para então falar sobre cidades sustentáveis e um pouco sobre a proposta da Rede Favela Sustentável.

Depois, foi a vez da Leticia Barroso, arquiteta e urbanista, doutora pela Universidade Federal Fluminense, e membra do IEJS – Instituto de Educação e  Justiça Social, que veio partilhar conosco a situação de Caraguatatuba, município localizado no litoral de SP, que passa por um processo de revisão do Plano Diretor, sem participação popular (por causa da pandemia de Covid-19), e que visa alterações significativas em relação ao plano em vigor, com a ocupação de áreas muito frágeis do ponto de vista ambiental. Ao mesmo tempo que denuncia esta tentativa de ocupação de áreas de risco ambiental (deslizamentos de encostas e inundações de baixadas), mostra-nos também o potencial deste instrumento que é o Plano Diretor para orientar o crescimento das cidades de forma sustentável, combatendo a desigualdade social e criando resiliência para enfrentar a crise climática que temos em curso.

Na sequência, tivemos a apresentação de Cecília Angileti, arquiteta urbanista, doutora e mestre pela Universidade de S.Paulo USP, docente da Universidade Federal LatinoAmericana – UNILA, e coordenadora da Escola Popular de Planejamento da Cidade, projeto de extensão criado por ela, em Foz do Iguaçu, no Paraná. A Cecília também foi sócia fundadora da Tema, em 2004, e apesar de já não fazer parte do quadro da empresa há bastante tempo, temos muito orgulho de tê-la como parte da nossa história. Cecilia veio falar da sua experiência profissional, que começou em São Paulo com o desenvolvimento de estudos urbanos e habitacionais participativos, que tinham como unidade de planejamento as bacias hidrográficas, e onde o desenvolvimento de cartografias sociais possibilitou posteriormente organizar ações conjuntas de diversas comunidades contra despejos causados por grandes projetos e obras de infraestrutura ou recuperação ambiental. Contou-nos como essa experiência originou o Observatório de Remoções dentro da FAU-USP e da UFABC, e ajudou a construir um movimento de resistência histórico. Sua apresentação culminou com a experiência com a Escola Popular de Planejamento da Cidade em Foz do Iguaçu, em uma região marcada por grandes projetos de infraestrutura, fortíssimo interesse imobiliário, vulnerabilidade ambiental e social, e pouco memória de resistência; uma experiência que mostra o empoderamento da população mais vulnerável através da forma escolhida para construir conhecimento acerca do território, criando resistência.

Depois foi a vez de ouvirmos a experiência de Lilian Nagato, arquiteta urbanista, mestre em Tecnologia da Construção na FAU-USP e sócia da TEMA, que veio apresentar as experiências desenvolvidas em Embu das Artes, onde trabalhou por 10 anos, com inúmeros projetos habitacionais, planejados por subbacias hidrográficas, que também visavam a recuperação urbana e ambiental. Lilian também apresentou as experiências estudadas por ela para seu mestrado, adotadas na prática em Embu das Artes e também em outros municípios, com soluções sustentáveis para a questão habitacional de interesse social. Apresentou também algumas experiências desenvolvidas pela Tema, com o mesmo enfoque.

Por fim, tivemos a oportunidade de ver a apresentação da Gabriela M. K. Figueiredo e Pedro Machado da Costa, estudantes de arquitetura e urbanismo no Centro Universitário de Votuporanga, e estagiários da TEMA. Eles apresentaram um projeto que vem sendo desenvolvido pela Tema, de melhoria habitacional para uma residência em Valentim Gentil, região de Votuporanga, no interior do Estado de São Paulo. Além da reforma e ampliação da habitação existente, o projeto inclui também uma área para produção de alimentos por hidroponia, e a previsão de um espaço de comércio na frente do lote, promovendo a geração de renda para a beneficiária, e fomentando uma economia local e solidária.

O conteúdo das apresentações foi sistematizado pela facilitação gráfica da Ilka Fagundes, que pode ser visto nos slides acima. Apesar de extensa, encorajamos a todos e todas assistirem às apresentações, que ficaram gravadas no canal do Circuito Urbano do YouTube, no link que deixamos abaixo.

O evento teve a moderação de Terezinha Gonzaga, arquiteta urbanista e doutora em Estruturas Ambientais Urbanas (USP), Docente da Unifev no curso de arquitetura e urbanismo, coordenadora da Planta Popular da Prefeitura Municipal de Votuporanga, e sócia da Tema.

Links

release do Circuito Urbano – ONU Habitat

gravação no canal do Circuito Urbano no YouTube

Ficha técnica:

Data do evento: 23 de Outubro de 2021, às 9h (horário de Brasília)

Organização: Tema Planejamento e Projetos Urbanos, Arquitetônicos e Sociais

Apoio institucional: ONU-HABITAT Brasil

Facilitação gráfica: Ilka Fagundes (voluntária ONU-Habitat) @ilkafagundes

Apoio técnico: … (voluntária ONU-Habitat)

 

 

Casa da Arquiteta 2 – As Soluções Sustentáveis

Por Lilian Nagato


Se vc viu o post original da Casa da Arquiteta, talvez tenha ficado curiosa/o com algumas das soluções sustentáveis que adotamos… Então este novo post é pra mergulharmos mais fundo na questão da sustentabilidade! Vamos lá?

Lá no primeiro post, dissemos que abrimos mão do terceiro quarto (uma suíte) para termos um jardim. Será que valeu a pena? Veja o que ganhamos com isso…

Mais luz natural

Ao demolir o terceiro quarto, o pequeno corredor em volta da casa virou um jardim, que trouxe muito mais luz para todos os cômodos com janelas próximas. Até os vizinhos saíram ganhando.

Maior permeabilidade do solo

Antes, 100% do lote encontrava-se impermeabilizado. Com a reforma, foi quebrado o piso existente do quintal, e foi deixada pavimentada apenas a passagem para a edícula. Como resultado, o lote ficou com 21,3% de sua área permeável, garantindo que a água da chuva possa penetrar no solo, evitando assim seu escoamento para o sistema de drenagem convencional da cidade, contribuindo para diminuir enchentes e a formação de ilhas de calor, e possibilitando recarga do lençol freático, sua absorção pelas plantas, sua evaporação… Para aumentar a permeabilidade do solo, foram escavadas covas grandes para o plantio de mudas, e também uma vala de infiltração (preenchida com brita) abaixo do telhado da edícula. O piso de ardósia da passagem para a edícula tem caimento para o jardim, que foi finalizado com nível abaixo do pavimento.

Maior retenção de água no lote

Sobre a laje da sala (que também apresentava infiltrações), havia telhas de cimento amianto e algumas calhas muito antigas para o escoamento da água da chuva. Na reforma, as telhas foram retiradas, e foi feita a impermeabilização da laje e das calhas, e a instalação de um teto jardim. Com o teto jardim, aumentamos a retenção de água de chuva no lote, melhoramos o isolamento térmico da sala, e ainda temos mais espaço para cultivo de plantas. Contribui-se, novamente, para diminuir enchentes e ilhas de calor.

Reaproveitamento da água da chuva

No corredor lateral, foram instalados reservatórios para captação e armazenagem de água de chuva. As calhas que fazem a captação das águas do telhado da casa já existiam, e foram apenas acrescentados os reservatórios nos pontos de descida da água. O sistema adotado funciona por gravidade, dispensando o uso de bombas; foi projetado especificamente para o local, tendo como base os projetos de Edison Urbano (www.sempresustentavel.com.br) e de Marco Antônio Jorge (patenteado no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual, sob o código MU8400084-8 U2, implantado em habitações populares em Americana, SP), e construído com tubos de PVC de 300mm de diâmetro. A água é diretamente utilizada para regar o jardim e outros usos não potáveis, como lavagem de pisos.

Paisagismo mais produtivo

No jardim de pequenas dimensões, foram aproveitados diversos espaços para o plantio de ervas, temperos, frutos, verduras, etc., utilizando-se sistemas propostos pela Permacultura¹, como a espiral de ervas. A espiral de ervas cria condições adequadas ao desenvolvimento vegetal, a partir da criação de microclimas (mais ou menos sol ou sombra) e de condições de solo (mais ou menos umidade) apropriadas a cada espécie, com condições de acessibilidade facilitadas ao usuário.

Também plantamos maracujá próximo à fachada do escritório e do quarto de hóspedes, na edícula, voltada ao norte, para ajudar a sombrear os grandes vãos.

Além de tudo isto, também incorporamos…

Compostagem de lixo orgânico doméstico

Foi colocada na lavanderia, sob a escada de acesso ao escritório, um minhocário, estrutura que também segue os princípios da Permacultura, destinada à compostagem de lixo orgânico doméstico. Trata-se de um conjunto de caixas interligadas, onde é colocado o lixo orgânico não cozido (como cascas de frutas e legumes, restos de verduras, etc.), onde ocorre a compostagem, ou seja, a decomposição da matéria orgânica para uso como fertilizante em plantios. Como resultado, temos a redução da quantidade de lixo produzida, e a fabricação no local dos adubos/fertilizantes utilizados no jardim.

Energia solar

Para completar o pacote de sustentabilidade, não poderíamos deixar de usar a energia solar, tão abundante no nosso país. Utilizamos a sua forma mais barata, a energia solar em sua forma térmica, para (pré)aquecer diretamente a água do chuveiro. Foi utilizado o Aquecedor Solar de Baixo Custo fabricado pela Belosol (fora de mercado atualmente), baseado na tecnologia social desenvolvida pela Sociedade do Sol (www.sociedadedosol.org.br). As placas solares foram posicionadas sobre o teto jardim, voltadas a norte, e estão ligadas a um reservatório exclusivo para água quente, isolado com EPS, colocado entre a laje e o telhado.

Nota

¹ Permacultura, segundo seus autores, é “um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, cujo objetivo é a “criação de sistemas que sejam ecologicamente corretos e economicamente viáveis; que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis a longo prazo”. MOLLISON, B. Introdução à Permacultura. Tyalgum: Tagari Publications, 1991, p. 13.

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por Poliana Risso e Guilherme Ueda


A residência parte dos seguintes princípios:

- integração dos ambientes entre si e com os espaços externos;

- permitir a iluminação natural, mas evitar a incidência solar direta;

- garantir a máxima ventilação natural em todos os ambientes;

- utilizar o mínimo de revestimentos, deixando os materiais em seu aspecto natural.

A fachada é composta por 2 volumes simples que se interseccionam e se distinguem pelo contraste de texturas. Os elementos vazados na fachada principal garantem ventilação permanente sem prejudicar a privacidade.

O eixo central do projeto é definido por um corredor, que interliga todas as áreas da casa.

A cozinha oferece o mínimo para o uso confortável. Ao lado do corredor central, tem ligação direta com a área externa, destinada à churrasqueira.

A sala de jantar garante a continuidade do espaço entre cozinha e estar. Por estar centralizada na planta, conta com iluminação zenital, com pé-direito mais alto e ventilação permanente.

A churrasqueira é em espaço aberto, e por sua importância como espaço de socialização, se encontra no centro da casa, integrando-se com a cozinha e com o jardim central.

O jardim central denuncia a complexidade e a contradição das relações espaciais: os quartos, embora isolados pelo corredor central, integram-se ao jardim e à área social.

A integração quarto-jardim é atenuada por um desnível no quarto e pelos portões basculantes articulados. Produzidos sob encomenda, amenizam claridade externa quando fechados e funcionam como brise quando abertos.

Na extremidade, um jardim estabelece um ponto final, ao mesmo tempo em que delimita o acesso à área íntima da casa.

As instalações elétricas, aparentes, facilitam alterações e a manutenção, e fazem parte da estética da casa.


Ficha Técnica:

Local: Votuporanga, SP, Brasil

Projeto: agosto/2017

Conclusão da obra: agosto/2018

Área: 180 m²

Tipologia: Residencial

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No início de 2017, a Tema fez uma parceria com o Espaço D’Elas, para construção coletiva do projeto Casa Viva.

O Espaço D’Elas surgiu com a proposta de ser “um espaço de produção e divulgação da Cena Delas, uma cena de protagonismo feminino na economia criativa”. Oferecia oficinas de produção artesanal, espaço para realização de feiras e bazares, sediava a AMAE (Associação de Mulheres Artistas, Empreendedoras e Produtoras Sócio-Culturais), onde seriam “oferecidas às associadas consultorias em empreendedorismo, economia criativa e produção sócio-cultural; sede de loja colaborativa; espaço de acolhimento infantil”.

Além dos projetos citados acima, o Espaço D’Elas também buscava ser “uma casa incubadora de sustentabilidade, abrigando os mais inovadores projetos de permacultura urbana desde o aproveitamento de água, separação do lixo, captação de energia solar, horta urbana etc.” A esta proposta foi dado o nome de Projeto Casa Viva, e foi aqui que entrou a Tema, colaborando desde a justificativa até a concepção e execução das primeiras oficinas.

O projeto proposto pela Tema sugeria intervenções no espaço físico da casa, em busca de “mais verde, vegetação, e (…) maior contato com a natureza, seus recursos e ciclos para suas frequentadoras e frequentadores”. O PROCESSO de transformação e intervenção no espaço foi concebido para que fosse já o próprio início das atividades da Casa Viva, fazendo jus ao nome do projeto. Assim, aos poucos, a casa seria transformada durante as oficinas temáticas propostas, visto que não havia recursos para uma grande obra antes da inauguração do Espaço. A sequência de atividades foi pensada para que os produtos de uma oficina (e também seus resíduos) pudessem ser aproveitados para o início da próxima.

Dentro deste escopo, foram realizadas duas oficinas no Espaço, sendo a primeira uma “Oficina de projeto com vivência/leitura do espaço e introdução a técnicas sustentáveis de manejo da água”, e a segunda uma “Oficina sobre água da chuva com construção de minicisterna”. As oficinas foram realizadas dentro de uma metodologia PBL (Aprendizado Baseado em Problemas), ou “aprender-fazendo”, em que os conteúdos são apresentados sempre vinculados à resolução de problemas que tenham significado para os alunos.

A primeira oficina foi realizada dia 14/1/2017, no dia da inauguração do Espaço, e teve cerca de 2h30 de duração. Foi feita uma introdução a diversas técnicas sustentáveis de manejo da água de chuva, como  técnicas de tratamento de águas servidas, captação e reuso de água de chuva e drenagem natural. Na sequência, foi feita uma leitura e mapeamento do Espaço tendo em vista a questão da água. Por último, foi feito um desenho – um projeto construído coletivamente – para o Espaço, localizando nele os elementos desejados para um melhor manejo das águas.

A segunda oficina, fruto das definições alcançadas na primeira, foi realizada no dia 11/2/2017, e teve aproximadamente 3h de duração. Abordou os conceitos envolvidos na captação e reuso da água da chuva, e a construção de uma minicisterna (projeto de Edison Urbano, disponível na internet no site www.sempresustentavel.com.br) com todos os seus componentes. Foi ministrada em conjunto com André Bacic Olic, bacharel em Agroecologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais.

Foi também entregue, para consolidação do processo, um relatório visual, com as ideias que foram discutidas no grupo da primeira oficina, e sua espacialização, além de outras ideias e soluções propostas pela arquiteta.

Solo-cimento em Embu das Artes – Artigo científico

Uso de tijolos de solo-cimento na construção de habitações de interesse social no município de Embu das Artes, SP, Brasil

por Lilian Nagato


Este artigo, apresentado pela arq. Lilian Farah Nagato para o 2º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – CIHEL, realizado em Lisboa, Portugal, em 15/3/2013, busca relatar a experiência do município de Embu das Artes, localizado na Região Metropolitana de São Paulo, Brasil, com o uso de tijolos de solo-cimento para construção de habitações de interesse social.

Com o relato de um estudo de caso, o artigo pretende mostrar que a opção por uma técnica construtiva não convencional, porém localmente disponível, e por isso adequada, pode auxiliar a viabilizar a política habitacional de um município sem recursos e com grande déficit habitacional a ser enfrentado.

O artigo explica, inicialmente, a opção pelo uso dos tijolos de solo-cimento, em um momento de poucos recursos financeiros disponíveis para construção de habitações, e a possibilidade de aproveitamento de outros recursos existentes, como uma máquina usada, espaço para instalação de uma fábrica, matéria prima disponível e uma grande quantidade de pessoas desempregadas, que fabricaram os tijolos.

São explicadas as características do material e do sistema construtivo, que possibilitou sua fácil assimilação por pessoas sem qualificação prévia em construção civil, que executaram a alvenaria em sistema de mutirão (ajuda mútua).

A produção dos tijolos na fábrica montada pela Companhia Municipal de Habitação de Embu das Artes é relatada e sistematizada em fases, para melhor apreensão dos processos produtivos, dificuldades encontradas, e evolução da produção. Também são relatadas as dificuldades encontradas na execução da alvenaria pela mão de obra pouco qualificada, e as alterações de projeto realizadas para facilitar a execução.

Por último, é apresentada uma avaliação da percepção e aceitação do material pelos moradores, realizada com base em pesquisa amostral.

Constatou-se que o uso de tijolos de solo-cimento, associado a outras alternativas técnicas não convencionais, viabilizou, inicialmente, por seu baixo custo financeiro, a execução de uma política habitacional no município de Embu das Artes e o atendimento de famílias com alto grau de vulnerabilidade social, habitantes de favelas sem nenhuma infraestrutura ou qualidade urbana e habitacional. Os projetos executados também criaram um novo referencial arquitetônico e urbanístico no município, com a inserção de conjuntos em pequenos terrenos dentro do tecido urbano existente. O uso do material ainda proporcionou ganhos dos pontos de vista ambiental e social, que abriram na política habitacional a possibilidade de incorporação de conceitos relacionados à sustentabilidade.

Palavras-chave: Habitação, política pública, inovações técnicas, solo-cimento, sustentabilidade.

Casa da Arquiteta

Por Lilian Farah Nagato


Quando procurei uma casa pra morar com meu companheiro, o importante era ter espaço externo para termos um jardim, uma churrasqueira, um lugar pra pendurar uma rede e pra curtir o sol sem sair de casa. Mas esta não é a regra de quem mora em casa em São Paulo, ao que parece. A maior parte das casas que visitávamos ocupavam quase 100% do terreno, e não sobrava espaço externo nenhum, a não ser por alguns corredores laterais estreitos. Assim sendo, quando escolhemos esta casa, sabíamos que teríamos que reformá-la, derrubando cômodos.

Por isso, abrimos mão do terceiro quarto para termos um jardim. Quebramos todo o piso do quintal para garantir a permeabilidade do solo.

Organizamos a disposição e a circulação interna da casa, trocando a cozinha de lugar com um dos quartos.

Refizemos instalações hidráulicas e elétricas, e a maior parte dos acabamentos. Temos um aquecedor solar pra água do chuveiro, e reservatórios de água de chuva por gravidade.

Na edícula, aproveitamos um espaço grande e estreito que parecia não ter muito uso, e o transformamos em um escritório/estúdio, com fechamento quase todo em esquadrias de madeira, em vez de alvenaria com janelas pequenas, pra não perder a luminosidade.

Também reformamos o quartinho (cheio de infiltrações) e o banheiro da edícula, pra ser um terceiro quarto. No momento, está sendo usado como quarto de hóspedes.

Retiramos as telhas de cimento amianto existentes sobre a laje da sala (que também apresentava infiltrações), fizemos a impermeabilização, e colocamos um teto jardim.

As soluções mais sustentáveis adotadas são de baixo custo e alto impacto. Porque não basta o discurso, temos que partir pra prática!


Ficha técnica:

Local: São Paulo, Brasil

Início do projeto: 2012

Conclusão da obra: 2014

Área do terreno: 160 m²

Tipologia: Residencial

Sustentabilidade nas políticas habitacionais – mestrado Lilian Nagato


A prática da sustentabilidade nas políticas públicas de habitação: A experiência de Embu das Artes

Esta dissertação busca contribuir para a incorporação, de forma multidisciplinar e transversal, da questão da sustentabilidade na prática das políticas públicas de habitação. Para isto, realiza uma revisão histórica do crescimento da temática ambiental no mundo e do desenvolvimento das políticas habitacionais no Brasil, analisando os pontos de aproximação entre elas. São relatadas experiências de municípios no Brasil, desenvolvidas nos últimos 10 anos, que buscaram incorporar às intervenções em habitação de interesse social uma ou mais dimensões que compõem o conceito de sustentabilidade, através do uso de tecnologias específicas para este fim, descritas ao longo do texto. Ao final, são relatadas algumas experiências mais sustentáveis desenvolvidas no município de Embu das Artes, na Região Metropolitana de São Paulo, como parte de sua política habitacional, sendo que uma delas foi avaliada através de pesquisa amostral com beneficiários. Com base nas experiências relatadas, é possível apreender fatores comuns, que auxiliam na compreensão das dificuldades encontradas, como forma de auxiliar na concretização de novas experiências em busca da sustentabilidade nas políticas públicas de habitação.

Palavras-chave: habitação, políticas públicas, arquitetura sustentável, Embu – SP

Veja a dissertação completa no site da USP: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16132/tde-29082012-132341/publico/dissertacao_liliananagato_original.pdf

Concurso Morar Carioca


A proposta apresentada se pauta pela abordagem de integração dos projetos de saneamento, habitação, participação, e pelos conceitos e princípios que regulamentam o direito à cidade e a gestão democrática, a função social da cidade e da propriedade. Entende-se que a urbanização das favelas com implantação de infraestrutura visa sua integração à cidade formal, a segurança na posse dos moradores.

A participação ocorre desde o início do processo, em todas as etapas, dos diagnósticos aos projetos urbanísticos, até o pós-obra e a regularização. Aliada às políticas sociais (saúde, educação, meio ambiente, desenvolvimento local), os principais objetivos da participação são o fortalecimento da democracia, da identidade cultural e da organização dos moradores, e a compreensão do projeto.

O saneamento ambiental deverá ser pensado de forma integrada, e organizado no território tendo como unidade básica as microbacias hidrográficas. O manejo de águas e de resíduos sólidos deverá utilizar técnicas sustentáveis, de abordagem naturalística sempre que possível, com o objetivo de diminuir os impactos ambientais das ocupações, e melhorar a qualidade de vida com a implantação de áreas verdes e com o envolvimento da população no cuidado com o ambiente.

Dá-se preferência pela consolidação das habitações existentes, evitando remoções forçadas, após avaliação da qualidade das edificações. São executadas melhorias habitacionais com assistência técnica gratuita e individualizada. A remoção de unidades se dará apenas quando não for possível a eliminação do risco, ou quando houver interferências com a infra-estrutura. Nestes casos, as famílias devem ser relocadas dentro da favela, ou o mais próximo possível, em pequenos projetos e terrenos. Dever-se-á estabelecer parâmetros urbanísticos para cada área, considerando-se suas especificidades. As áreas vulneráveis não passíveis de ocupação deverão ter propostas de uso adequado.

A acessibilidade e mobilidade deverão proporcionar a integração urbanística com a cidade formal através do sistema viário, transporte e espaços públicos das favelas. Serão garantidas soluções mecanizadas para encostas, e implantadas ciclovias nos parques lineares às margens de córregos.

Busca-se valorizar a estética da favela, território conquistado e construído por seus moradores, com sua cultura espacial própria, que reflete e influencia todos os aspectos da sua vida cotidiana.

Urbanização de favela na bacia da Guarapiranga


Este trabalho escolheu como alvo de estudo e intervenção os mananciais hídricos da grande São Paulo, pois estas áreas unem o problema habitacional ao ambiental. O projeto apresentado contempla uma urbanização de favela, com a humanização deste ambiente tão inóspito à sua população.

O trabalho consiste em 2 partes fundamentais: pesquisa teórica sobre o tema, para embasamento e conceituação, e projeto e proposta de soluções para uma área específica.

Na parte teórica, foi realizada pesquisa sobre o problema da habitação na cidade de São Paulo, os projetos de urbanização de favelas, a questão ambiental, os mananciais da cidade de São Paulo, e sua ocupação, ainda na década de 1970, no caso da represa Guarapiranga, e ainda os conflitos resultantes, neste território, entre ocupação e preservação ambiental.

Para o projeto, foi escolhida a favela Santa Fé, na área de proteção da Guarapiranga. Foi feito um diagnóstico da situação em que se encontrava, foi ouvida a liderança comunitária. A população local havia preservado de ocupações uma área ao lado da favela para a construção de um parque, e demandava esta ação por parte do governo.

O projeto de urbanização de favela foi elaborado pensando-se que é possível ocupar a região de proteção aos mananciais, se forem adotadas soluções mais ecológicas.

Para a favela, o projeto propõe a canalização aberta do córrego existente e seu tratamento paisagístico, soluções de drenagem natural, contenção de taludes em patamares que podem ser utilizados para cultivo de hortas, e a criação de espaços verdes entremeados ao tecido urbano da favela, proporcionando mais salubridade para as casas ao seu redor, aumentando a quantidade de verde dentro da favela, tornando o ambiente esteticamente mais agradável, ajudando no controle da temperatura, e talvez até na produção de alimentos. Os novos espaços criados ainda oferecem a possibilidade de servir como fonte de emprego e renda para a população.

Para a relocação das famílias que tiverem suas casas removidas no redesenho do tecido urbano da favela, foi projetado um edifício de apartamentos. É um edifício escalonado, que aproveita a inclinação do terreno, com acesso por duas ruas, com terraços-jardim, e apartamentos de 2 ou 3 dormitórios.

O parque prevê espaços de lazer ativo para a população local, como quadras, pista de caminhada e ciclovia, pista de skate, parquinho para crianças, e área com equipamentos para ginástica. Também foram propostos espaços que sejam produtivos para a comunidade, como horta e pomar comunitários, um centro de reciclagem (com espaço para triagem do lixo limpo, oficina de artesanato, e área para compostagem de lixo orgânico, para ser usado nas hortas e pomares), e um novo edifício para creche e sede da associação de moradores.

O parque ainda conta com áreas alagáveis integradas ao paisagismo, projetadas com o
intuito de pelo menos minimizar, ou até acabar, com as enchentes que freqüentemente
ocorrem próximo à linha do trem, a jusante do parque.